Consciência histórica e cultura são o mote das comemorações do 25 de abril em Cantanhede

As comemorações do 39.º Aniversário do 25 de Abril, que vão decorrer nos Paços do Concelho de Cantanhede terão como mote a cultura e a valorização das referências históricas que estão na base da afirmação e compreensão da identidade cultural da região.

A sessão solene começa às 14h15, depois da deposição de uma coroa de flores no Busto de Jaime Cortesão, em Ançã (12h00), tendo como ponto alto a apresentação editorial do livro Bases para uma História Política, primeiro volume da série Construir a Memória da Região de Cantanhede, da autoria de Manuel Cidalino Madaleno.

O programa inclui ainda a intervenção do Professor Doutor Amadeu Carvalho Homem, historiador e professor catedrático da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, que abordará o tema A Consciência Histórica como Fator de Identidade, a entrega do Prémio Lima de Faria a Filipa Gonçalves Marques Sá Lopes, por ter obtido, no ano letivo de 2011/2012, a melhor média de conclusão do ensino secundário no Concelho de Cantanhede, com 19 valores. Natural de Cantanhede, Filipa Sá Lopes terminou estudou na Escola Secundária Local e está a frequentar o primeiro ano do Curso de Medicina na Universidade de Coimbra..

Sobre a série Construir a Memória da Região de Cantanhede e o livro Bases para uma História Política

Constituída por dez volumes, Construir a Memória da Região de Cantanhede é editada pela editora Areias Vivas, com apoio da Câmara Municipal de Cantanhede e em parceria com a Confraria Nabos e Companhia, de Carapelhos. A edição da obra começa com o lançamento do livro Bases para uma História Política, onde o autor refere, em nota de abertura, que decidiu dedicar-se “a esta paciente tarefa” por ter sentido “uma irrefreável vontade de ver ‘ressuscitado’ o representativo testemunho da pujança de sucessivas gerações”. Segundo refere, a leitura de milhares de periódicos “tornou possível a tentativa de, despretensiosamente, contribuir para traçar a memória desta parcela do território gandarês e da limítrofe zona do torrão bairradino, que tantas afinidades revelam”.

Em registo confessional, Manuel Cidalino Madaleno conclui a dizer que, “para além da fruição de gratificante e incoercível prazer pessoal, me entreguei a este esforço pensando, particularmente, em dois aspetos:

- no benefício do acesso das gerações mais jovens ao conhecimento do seu passado, repentinamente tornado tanto mais remoto quanto a espantosa evolução tecnológica faz parecer quase pré-históricos os mais evoluídos procedimentos de há poucas dezenas de anos;

- em avivar a memória e fazer meditar as rezingonas gerações dos menos jovens – tão insatisfeitas por depressa terem esquecido as dificuldades que tiveram de enfrentar no país que foi o dos seus verdes anos – na razão de Tchekhov: «Onde não estamos é que estamos bem. Já não estamos no passado, e então ele parece-nos belíssimo»”.

No prefácio, o Presidente da Câmara Municipal de Cantanhede avalia a obra de Manuel Cidalino Madaleno como “uma investigação exaustiva e profunda” que se materializa numa “narrativa absolutamente notável sob vários pontos de vista, a começar pela sua clareza e consistência, muito por efeito do modo bem conseguido como a descrição das situações e dos fatores que as determinaram aparecem articuladas com as transcrições documentais que ilustram essas realidades”.

Para João Moura, o autor “desconstrói os acontecimentos mais relevantes, a partir da interpretação de quem viveu as circunstâncias em que eles emergiram, complementando-a com elementos históricos pertinentes para a correta perceção dos assuntos.”

Por seu lado, o médico e escritor Cândido Ferreira considera que “numa época em que prevalecem interesses mesquinhos, o apoio do Município de Cantanhede a esta relevante iniciativa do Prof. Cidalino Madaleno, é prova monumental de que a seara da cultura ainda goza de campo fértil, entre nós”. E sublinha que “o conhecimento, a par do caráter, é a principal fonte de luz de que dispomos para iluminar os caminhos do futuro, adiantando que a publicação do primeiro tomo desta curiosa e, muitas vezes, até divertida viagem pela História das nossas gentes, terá de ser entendida como o contributo de cidadãos que não desistem de lutar por um mundo melhor e mais próspero, aberto às gerações vindouras”.

O também escritor e académico Idalécio Cação, a propósito de Construir a Memória da Região de Cantanhede, escreve que se trata de “uma investigação altamente meritória, quer pelo seu ineditismo, quer pelo valor intrínseco de que se reveste. É um notável documento histórico do último século e meio da região de Cantanhede e um repositório de dados sociológicos que dá prazer compulsar”.

Série Construir a Memória da Região de Cantanhede
Volume I – Bases para uma História Política
Volume II – A Religião, a Política e as Superstições
Volume III – A Higiene e a Medicina
Volume IV – Os costumes
Volume V – As Festas e as Tradições
Volume VI – A Educação, a Cultura e o Desporto
Volume VII – O Desenvolvimento
Volume VIII – A Economia
Volume IX – História(s) da Imprensa do Concelho
Volume X – Rudimentos para uma História Urbanística

A sinopse de Construir a Memória da Região de Cantanhede refere que se trata de um aturado trabalho de pesquisa da riquíssima mas ainda pouco estudada História de Cantanhede e da sua região nos últimos 150 anos.

Em dez volumes temáticos, o autor delicia os leitores com textos de grande vivacidade, ao mesmo tempo sérios e divertidos, profundos e descontraídos, com base em transcrições de notícias e de análises ora ponderadas, ora hilariantes; ora dramáticas, ora jubilosas.

Por eles desfila a imensa variedade de personagens de um povo forjado de todos os temperamentos, onde se amalgamam laboriosos e mandriões; proletários e burgueses; famintos e cevados; incultos e sábios; pacíficos e violentos; solidários e avarentos; boçais e corteses; crédulos e pirrónicos; ingénuos e maliciosos; embezerrados e pândegos...

Poder-se-á afirmar que o verdadeiro autor deste notável trabalho é o próprio povo. E que os cronistas foram os correspondentes dos jornais locais que, desde o séc. XIX, foram relatando, minuciosamente, a História construída de todas as urdiduras que tecem a vida coletiva: das intrigas políticas; das conturbadas relações entre o clero e o povo; da difícil compatibilização entre a fé religiosa e a crendice nas superstições; das festas populares e dos seus extravagantes episódios; dos rocambolescos combates entre filarmónicas; das já esquecidas tradições; dos inimagináveis costumes; dos inacreditáveis hábitos de higiene; das ingénuas e incautas práticas da medicina; das estrambóticas histórias dos primórdios do ensino, da cultura e do desporto; do dificultoso acolhimento das novidades que fizeram o progresso; do paradoxo de cómicas cenas de dramáticas dificuldades económicas; das impetuosas polémicas da evolução urbanística; das violentíssimas e burlescas altercações que fizeram a História da imprensa local…

Convicto de que “o passado é o presente, tal como sobreviveu na memória humana” e “age sobre o futuro com um poder comparável ao do próprio presente”, o autor “ressuscitou”, passo a passo, todo um manancial de relevante informação que se encontrava inacessível. Esse meticuloso esforço faz da série Construir a Memória da Região de Cantanhede um trabalho absolutamente único e indispensável para percebermos o nosso presente a partir do conhecimento dos fundamentos da nossa cultura e das múltiplas vertent