Médico Cândido Ferreira doou coleçõesMunicípio de Cantanhede recebe espólio para criação do Museu de Arte e Colecionismo O Município de Cantanhede é, desde ontem, 7 de abril, proprietário das coleções de arte e colecionismo de Cândido Ferreira, médico, escritor e colecionista natural de Febres que acaba de doar à autarquia cantanhedense o seu espólio. O respetivo contrato de doação foi assinado no decurso de uma sessão realizada para o efeito no salão nobre dos Paços do Concelho, com a presença de representantes de várias entidades.Na ocasião, a presidente da Câmara Municipal, Helena Teodósio, agradeceu a Cândido Ferreira “a generosidade que teve para com o Município de Cantanhede, um gesto que o torna credor do mais vivo reconhecimento das atuais e futuras gerações da nossa comunidade”, e manifestou-se determinada “a honrar e a acentuar o significado desse gesto, de modo a que ele se perpetue com um alcance idêntico à grande projeção que pretendemos dar a tão valioso legado, tornando-o uma referência cultural reconhecida a nível nacional”.Segundo a autarca, o Município de Cantanhede está a partir de agora “bastante mais rico, não apenas pelo valor intrínseco do importante acervo patrimonial que lhe é doado, mas sobretudo pelas imensas possibilidades que com ele se abrem para o reforço do posicionamento cultural da cidade e do concelho no contexto do país”.O destino das coleções é o MAC – Museu de Arte e Colecionismo a criar na sequência do processo de reabilitação e adaptação da Casa Municipal da Cultura (Casa do Capitão-Mor), intervenção de fundo que promove a integração funcional dos imóveis através de uma solução arquitetónica assinada pelo arquiteto Miguel Abecassis, de acordo com o preconizado no Programa Estratégico de Desenvolvimento Urbano (PEDU) de Cantanhede. “Além do museu, a obra será marcante ao nível da valorização de uma frente urbana com expressão assinalável numa das principais zonas nobres da cidade”, garante Helena Teodósio, adiantando que “a empreitada, no valor de cerca de dois milhões de euros, será adjudicada na reunião da Câmara Municipal do próximo dia 16 de abril”, o que deixa antever o seu início para dentro de dois ou três meses, depois do visto do Tribunal de Contas.“A criação do Museu de Arte e Colecionismo é um desafio particularmente exigente”, afirmou Helena Teodósio, reportando-se às centenas de milhar de peças que fazem parte do espólio organizado em sete grandes áreas de colecionismo, designadamente pintura, mobiliário e artes decorativas portuguesas, arqueologia de todas as civilizações, artesanato do mundo, história do dinheiro, história postal, temas de bibliografia e afins e colecionismo dito popular. Com o inventário e classificação do espólio, bem como a elaboração do estudo da programação e implementação do projeto de musealização serão desenvolvidos sob orientação do Professor Doutor Fernando Batista Pereira, tendo por objetivo a criação de “um museu vivo, um museu com uma aposta forte nas funções cultural, patrimonial e educativa que não podem deixar de fazer parte de equipamentos coletivos desta natureza”, assegurou a autarca, reconhecendo “a necessidade de investir nos recursos certos para trabalhar bem o enquadramento das exposições, da sua montagem e organização à produção de conteúdos e à construção de narrativas consistentes sobre o que elas representam, passando pelos indispensáveis mecanismos de comunicação e difusão”.Na sua intervenção, Cândido Ferreira disse ser “um sonhador que vive com os amigos e para os amigos, de acordo com os valores universalmente recomendados e sem desistir de lutar pelas causas em que acredita”, referindo que a sua “vida profissional particularmente intensa” lhe deu “o privilégio de explorar muitas outras áreas e atividades” que o seu “espírito inquieto nunca deixou de aprofundar. Juntar objetos foi uma delas”, sublinhou, aludindo às centenas de milhar de peças que colecionou em várias temáticas e que fez questão de “devolver aos seus legítimos proprietários, que são o nosso povo e os povos com quem nos cruzamos ao longo de uma História de que Portugal só pode orgulhar-se”. Acompanhado da esposa, Liliana Ferreira, Cândido Ferreira afirmou que, “mais do que um dever esta doação é, para mim e para a minha família, um privilégio. A minha família acredita que fica mais rica se preservar a sua cultura e viver em consonância com os seus valores e maior herança que podemos legar aos nossos filhos não são os bens materiais, mas os valores da Humanidade”, concluiu.Intervieram ainda na cerimónia de assinatura do contrato de doação o arquiteto Miguel Abecassis, que apresentou o projeto do Museu de Arte e Colecionismo, o Professor Doutor Fernando Batista Pereira, que fez o enquadramento do programa de musealização das coleções, e a diretora Regional de Cultura do Centro (DRCC), Suzana Menezes, que na ocasião enfatizou o “momento simbólico, de grande relevância, no sentido em se por um lado temos um colecionador privado que abdica da propriedade de um acervo para disponibilizar ao público, por outro temos um Município que disponibiliza os seus recursos humanos, técnicos e financeiros, para assumir responsabilidades sobre o destino desse mesmo acervo”. Segundo aquela responsável, caberá “ao museu garantir o destino unitário a um conjunto de bens culturais, com objetivos científicos, educativos, lúdicos, que fomentam a democratização da cultura, a promoção da pessoa e o desenvolvimento da sociedade. O Dr. Cândido Manuel Ferreira, a Dr.ª Liliana Ferreira e o Município de Cantanhede estão de parabéns”, afirmou Suzana Menezes manifestando “a total disponibilidade da Direção Regional de Cultura do Centro para, dentro naturalmente daquelas que são as suas competências, apoiar a Câmara Municipal no grande caminho que hoje encetam”. No final da sessão que marcou o início do processo de constituição do MAC – Museu de Arte e do Colecionismo, o acontecimento foi ainda celebrado com um ato simbólico na Casa Municipal da Cultura, assinalando o facto de se iniciarem em breve as obras de reabilitação e adaptação para instalação da referida unidade museológica.