Arte Xávega
Ainda não há uma década que, cerca das sete horas da manhã, soava o inconfundível toque do búzio, a partir do qual os seis ou sete homens de cada companha se preparavam para a pesca.
Depois de equipado com cordas e redes, o pequeno barco era arrastado sobre rolos de madeira até à água, afastando-se da costa duas ou três milhas. Já em terra, o arrais comandava os pescadores na tarefa de puxar, à força de braços, as cordas que prendiam a rede, arrastando-a para a praia, operação a que se juntavam frequentemente alguns banhistas.
Depois procedia-se à separação do peixe capturado para ser leiloado publicamente, não sem que antes todos os participantes na árdua tarefa tivessem recebido o seu quinhão, que frequentemente partilhado num agradável convívio com os pescadores, homens experientes, iam contando as suas histórias da faina enquanto grelhavam o peixe e assavam as batatas na areia.
Hoje, além de algumas inovações introduzidas na atividade piscatória, já não é o tocar do búzio que desperta os pescadores para a faina, mas o essencial da arte xávega permanece de tal modo viva que constitui um dos elementos de maior atração turística da Praia da Tocha.
Os anos 60, década do grande boom de um produto chamado "Sol e Praia", transformou uma simples aldeia de pescadores num agradável destino de férias, a que não falta, durante a época balnear, um vasto programa cultural e desportivo que também contribui para que os veraneantes se sintam motivados a voltar.
Não obstante a procura turística ter arrastado, ao longo dos últimos anos, o inevitável crescimento urbanístico, este desenvolveu-se sem afetar significativamente a identidade da aldeia. As medidas adotadas para preservar a arquitetura xávega estão bem patentes na recuperação dos palheiros dos pescadores, agora transformadas em casas de férias, ou na adaptação dos materiais característicos locais a formas de construção mais atuais.
A Praia da Tocha é, ainda hoje, uma aldeia pitoresca, calma e tranquila, com um areal dourado onde, a par dos corpos bronzeados dos banhistas, se estendem as redes e os barcos típicos, enquanto os pescadores aguardam que o tempo permita a saída para o mar.